essa foto foi hoje mesmo que eu fiz. Para mostrar o novo visual.
Estava há pouco com minha querida, na caminha dela. Hoje a levei para cortar os cabelos e ficou ainda mais bonita. Depois fomos passear (na cadeirinha de rodas ) e lanchar no shopping. Ela não sabia muito o que escolher e terminei escolhendo cinco coxinhas de festa,daquelas pequeninas. E, adivinhem, tinha mostarda ! Se tem duas coisas no mundo que voinha adora , são elas: sorvete e mostarda. Ah,tem também a tapioca ensopada no côco que Bina ( a menina que cuida dela ) faz e ela fica desesperada para largar a sopa só para devorar as tapioquinhas. "Devorar", obviamente, é jeito de falar, uma vez que ela sofre de mal de parkinson e demora em torno de duas horas para terminar cada refeição.
Ok, voltando ao foco. Coxinhas. Cinco. E mostarda. Coca-cola.
Comeu de se lambuzar, eu e Bina ajudando, feito criança. Mas o engraçado era que todas as vezes que colocava a comida na boca começava a fazer cara feia - daquelas que fazemos ao comer algo apimentado ou muito quente - e a passar a mãozinha na frente do rosto,como se tivesse abanando alguma coisa.
Perguntamos se estava ardendo e disse que sim. ´Perguntamos se queria deixar de colocar mostarda, disse que não.
E sempre fazendo a carinha mais linda do mundo quando ardia.
Depois voltamos para casa e ela muito cansada.
Foi dormir tem pouco tempo e depois de uns dez minutos fui , como o habitual, deitar um pouco com ela em sua cama, antes que caísse no sono. Mas foi tarde porque ela estava no décimo terceiro ronco. Acho que o cansaço do passeio de hoje foi grande mesmo =)
Ela disse que adorou o passeio e voltamos cantando dentro do carro. Duas músicas. Uma que me ensinou na infância e era censurada porque tinha palavras como " cagar, bosta, cocô,tolete" e ela não queria que minha mãe soubesse que me ensinou. Mas nunca esqueci. Risos.
E outra música que cantava quando ela era criança e diz assim:
"zé corneteiro, casado com um peixão
levou sua mulher para mostrar ao batalhão
no dia seguinte por ordem do major
josé foi promovido a corneteiro mor".
Então, deitada na cama ao lado dela, ouvindo sua respiração pesada e profunda, a beijei devagarzinho no rosto, senti seu cheiro e pensei no dia em que eu não vou poder ter mais essa felicidade.
E pensei em silêncio comigo,enquanto alisava seus cabelos e ouvia seu sono profundo:
"a pele quente, o abraço seguro, o riso fácil
o olhar de criança, a voz tão gostosa, o barulho dos passos
o jeito de rir, de pedir, de teimar
o jeito de andar...
as mãos tão quentinhas, o cheiro dos cabelos
e os cheiros que deixa pela casa depois que toma banho
a poltrona na sala..."
e me entristeci =(
o meu maior medo é esse dia.
Olhei para o lado de fora da janela. Lua imensa, cheia, super iluminada. Lembrei que lua não tem luz própria, que o sol a ilumina. Minha avó é meu sol.
E por mais que a lua estivesse linda eu senti assim:
"para quê lua
por que lua
para onde...?"
E então, baixinho e de mansinho , sussurrei em seu ouvido enquanto dormia: eu te amo demais, voinha. Mais que tudo e todos. Você é meu sol. Dorme bem.
lágrimas nos olhos. Engoli seco e voltei para meu quarto.